terça-feira, 22 de junho de 2010

A Venezuela de Chávez em evidência, por Edson Kameda

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, nada mais é, segundo especialistas, que um produto da profunda crise que vivia o país no momento em que assumiu o poder. Hugo Chávez, antes de ser presidente, foi precursor de uma tentativa de golpe contra o Estado, em 1992, com o país imerso em uma crise de grandes proporções. Como relata o escritor e Cientista Político Gilberto Marigoni, “ele tenta dar um golpe de Estado, e ao contrário do que acontece com o golpista fracassado e com o golpe fracassado, ao contrário dele ser execrado pelo país, apesar de ter sido execrado pela elite venezuelana, ele é saudado como a principal personalidade publica da Venezuela”.


Para entender o governo de Hugo Chávez, é necessário lembrar que ele não é uma figura que vem da esquerda Venezuelana tradicional, ele vem do nacionalismo militar que vê na ruptura institucional uma maneira de salvar o país. Maringoni explica que o golpe organizado por Chávez foi em 1992, sendo que, no começo de 1993, oitos meses depois, foi realizado um pesquisa de opinião no país para apontar a figura pública mais influente da Venezuela, e para a surpresa de todos não foi nenhum político tradicional, nenhum ator, cientista, mas sim a figura do coronel Chávez.

Maringoni considera Hugo Chavéz uma personalidade política impar “da maneira como ele se coloca diante das câmeras, seu comportamento político, mas por ser uma figura que sai no nacionalismo militar, vem para a vida democrática, caminha para esquerda e se consolida como um elo de ligação para uma população que não via saída, que via um país aos cacos. Um elemento unificador de vários descontentamentos da sociedade venezuelana”, afirma.

O sociólogo Chico de Oliveira, por seu turno, considera que “Chávez é um estadista, para aquilo que a Venezuela necessita ele é um estadista sim”. E não há como negar. Se um país precisa de nova visão de futuro, esse país é a Venezuela.

Política Externa de Chávez para América Latina

Segundo Maringoni o governo venezuelano tem uma política externa que é considerada ousada, mesmo baseada na renda petroleira. O autor lembra que um ato engendrado por Chávez vem demonstrar sua visão de estadista quando, seis meses após sua posse, em agosto de 1999, chama uma reunião da OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo em Caracas, para definir os caminhos do petróleo no mundo.

Esta reunião foi fundamental para a economia Venezuelana e para a sagração de Hugo Chávez em seu país. Trabalhar com a OPEP, que é um cartel petroleiro baseado em Estados Nacionais, diferente das Sete Irmãs, que são multinacionais petroleiras, dá um peso diferente ao ocorrido. Chávez tem a nítida noção de que é protagonista e não figurante neste teatro mundial baseado nesta fonte de energia. E isso amedronta uma grande potência como os Estados Unidos, acostumado a ditar regras naquilo que o atinge diretamente.

Para entender o que a Opep, basta lembrar esta organização foi fundada em 1950, especialmente com os países árabes e Venezuela, e regula quase 44% do petróleo que é produzido no mundo. “O objetivo da Opep é estipular cotas entres países membros, de extração e refino para serem comercializadas no mundo”, explica Maringoni, “então você tem uma previsibilidade nos países da organização para que o preço do petróleo se mantenha estável”, completa.

Estratégia Chávez para aquecer a economia

Maringoni relata que a Opep estava desorganizado até a chegada de Chávez e a conseqüente convocação da reunião em Caracas, que possibilitou a rearticulação do Cartel, estipulando cotas de extração e comercialização e, principalmente, elevando o venezuelano a presidente da organização.

Como resultado do controle e regulação das cotas de produção o preço do petróleo vai subindo paulatinamente, até alcançar um patamar mais confortável para as economias dos países produtores. Ao final do ano seguinte, em 2000, Chávez consegue levar o preço do barril de petróleo a US$ 20, quase o triplo do que era vendido anteriormente.

Para entender esse progresso basta lembrar que, em 1992 quando ele intentou o golpe de Estado, o petróleo era vendido por cerca de U$ 7 o barril. Com esse salto, Chávez consegue adquirir fôlego para reorganizar a economia e, para desespero dos Estados Unidos, consegue a se projetar internacionalmente, em política mais ousada de planos de integrações pontuais com Brasil, Cuba e Irã.

Integração com os países vizinhos

Uma das formas do governo Hugo Chávez realizar a integração econômica é vendendo petróleo com prazo de pagamento de 15 anos para os países como Cuba, Honduras, e Nicarágua, e de reativar um tipo de articulação internacional que, segundo Maringoni, não se via na América Latina desde os anos 70. “Os países passam a ter um pólo aglutinador que é a Venezuela, mantendo essa troca de serviços médicos, esportivos, conhecimento na área de educação e o aumento de investimento na área de energia com alguns outros países”, explica o cientista político.

Maringoni analisa que o empresariado brasileiro quer a integração da Venezuela no MERCOSUL, “quem não quer é a oposição”, afirma. Ressaltando que a ideologia do empresariado é a linguagem do dinheiro, “nenhum empresário rasga dinheiro, porque a ideologia do empresário é o dinheiro, se a direita está dando mais dinheiro vamos investir na direita, e se um político de Centro esquerda está dando dinheiro, investe nele”, brinca.

Maringoni explica que o problema da Venezuela é ser um país rico, embora sem nenhuma atividade industrial importante. O cientista aponta um estudo realizado por Celso Furtado, em 1956, para o Cepal. Neste trabalho, que se chama “Venezuela, subdesenvolvimento com abundância de capitais”, Furtado aponta um fenômeno que só é detectado e classificado na ciência econômica nos anos 1960, que mostra, segundo explicação de Maringoni, “o fato de você ter uma abundância de capitais não garante que você se desenvolva se a posição geopolítica que você ocupa no mundo faz com que você seja um país periférico”, explica.

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