terça-feira, 22 de junho de 2010

Perfil político dos líderes da América Latina, por Caroline Midori

Os países latino-americanos carregam desde suas colonizações, passivos financeiros, culturais e ambientais. Líderes como Simon Bolívar, Che Guevara e Fidel Castro destacaram-se por suas lutas e posicionamentos frente aos diversos problemas comuns em seus países. Cada qual com sua particularidade, deixaram suas marcas na história.

No cenário atual, os presidentes que mais recebem holofotes da mídia são Lula, Evo Morales e Hugo Chávez. Analisar esses líderes apenas pela cobertura da grande mídia corre-se o risco de chegar a conclusões tendenciosas. Presentes nos meios de comunicação de massa, o que será que importantes representantes da esquerda pensam sobre esses líderes?

Lula

Pernambucano, metalúrgico de origem simples, Luiz Inácio Lula da Silva se candidatou quatro vezes até conseguir atingir seu objetivo, tornar-se presidente da República em 2002 e ser reeleito, em 2006. Lula nasceu em 27 de outubro de 1945 e sua história sindical começou na década de 60, após mudar-se para São Paulo com a família.

Lula foi ganhando destaque no movimento sindical e em 1975, assumiu como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Cinco anos depois ajudou a fundar o PT (Partido dos Trabalhadores) junto com outros sindicalistas, intelectuais e representantes de movimentos sociais, rurais e religiosos.

Um fato importante a ser lembrado é que antes de Lula conquistar a presidência, em 2002, o Brasil estava há oito anos sob o governo de Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Nesse período uma forte onda de oposição envolvendo CUT (Central Única dos Trabalhadores), movimentos e pastorais sociais estava se formando. Para Luiz Basségio, secretário continental do movimento Grito dos Excluídos nas Américas, Lula foi um instrumento que a burguesia precisava para manter o povo calado, acalmar essa onda opositora.

Para Basségio, Lula conseguiu mostrar que é possível ter um estado capitalista aliado com o social e destaca um dos pontos positivos de seu governo, que foi a implementação de políticas compensatórias como o Bolsa Família, mas que não tem o poder de causar mudanças estruturais. “Não queremos esmola, nós queremos trabalho esse é o xis”, enfatiza.

Em complementação ao pensamento de Basségio, o historiador e palestrante do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos Valério Arcary, explica que as políticas universais de educação, saúde e previdência social são muito caras em relação a programas como o Bolsa Família, que custa apenas 5% do que seria gasto nas mudanças universais.

O governo Lula é muitas vezes caracterizado de frente popular. Marcelo Buzzeto da liderança do MST (Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra) esclarece que “no MST o governo Lula não é caracterizado como um governo de frente popular, se fosse pelo menos a reforma agrária avançaria com um passo um pouco mais acelerado. É bem pior do que isso, é um governo que começa com uma frente muito mais ampla, onde você tem partidos progressistas e de esquerda”.

Com a popularidade em alta e após oito de governo, o objetivo atual de Lula é transferir seus votos para a candidata de mesmo partido, Dilma Rousseff.

Hugo Chavez

Um dos mais polêmicos líderes mundiais, principalmente por seu posicionamento frente aos Estados Unidos, o venezuelano Hugo Rafael Chávez Frías gera controvérsias entre a população de seu país e especialistas.

Aos 17 anos de idade, Chávez ingressou na Academia Militar da Venezuela e prosseguiu na carreira até chegar ao posto de tenente-coronel. Em 1992, já neste cargo, protagonizou uma tentativa frustrada de golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. Apesar de frustrada, Chávez ganhou visibilidade nesta ação que o ajudou a vencer as eleições em 99 quando seu país estava sofrendo uma forte crise econômica.
Segundo Chico de Oliveira, professor emérito de sociologia da USP, Chávez é um estadista para o que a Venezuela precisa. Por ser um país que é dependente da extração e venda do petróleo, a população venezuelana vê através das suas decisões, uma solução para o crescimento econômico e social.

Apoiada nos ideais de Simon Bolívar, Chavez criou em 2004 a Alba (Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América), uma parceria selada com Fidel Castro. Para Basségio, a Alba já é considerada um exemplo concreto de integração entre países da América Latina, mas não uma integração apenas econômica, concorrencial e sim, de complementaridade.

Evo Morales

Da etnia aymará, Juan Evo Morales Ayma é o primeiro presidente de origem indígena a chegar ao governo boliviano em 2006 e reeleito em 2009. Ser presidente de um pais considerado um dos mais pobres da América e que tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano da América do Sul, não é fácil.

Assim como Chávez, Evo Morales também tem suas desavenças com a política de Washington. Parte de sua cultura, o hábito milenar de mascar folha de coca, tem caráter medicinal para os índios e, por isso, Morales vem recebendo fortes críticas dos EUA por causa do tráfico de drogas.

Basségio conta um episódio interessante que ocorreu em Viena, no Encontro das Alternativas, onde Morales distribuiu uma folha de coca para os presentes e três mil pessoas mastigaram as folhas para representar o uso medicinal da coca.

De origem pobre, Morales não possui ensino superior, mas é conhecido pelo seu respeito e reconhecimento das várias etnias e origens de seu povo. Na constituição de 2009, foram ampliados os direitos dos 36 povos indígenas bolivianos, que terão maior controle de suas terras.

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