terça-feira, 22 de junho de 2010

América Latina, essa desconhecida, por Lourdes Nassif

A história dos países da América Latina tem momentos coincidentes. Tivemos descobrimento, independência, república, ditadura, redemocratização ocorrendo de forma síncrona na maioria dos países do bloco. Avaliar esse caminhar e trazer essa sincronia para o momento atual nos fará entender as relações que se formaram por todo o continente, bem como as cabeças que influenciam e as que apenas seguem o “que o senhor chefe mandar”.

Nas avaliações possíveis, podemos resgatar o crescente interesse pelo Brasil, como porta-voz da conciliação mundial, ou como grande irmão branco, em substituição aos Estados Unidos na permanência no Haiti, por exemplo.

Os caminhos políticos são muitos, as análises políticas são várias, mas para o entendimento do todo é preciso que esses detalhes sejam colocados, sob pena de não compreensão do perfil da América Latina, que carrega um país como o Brasil em oposição ao restante, com língua diferente e uma situação privilegiada nesta última crise mundial.

A integração passa pela economia

Todas as tentativas de integração dos países das Américas do Sul e Central se deram através de contratos de cooperação econômica, isto é, somente o livre comércio esteve nas pautas de negociações de cooperação. Nenhuma tentativa de integração foi feita com relação à América Latina como um todo, como agora se faz. Essa iniciativa inédita, porém, ainda tem um travo de “já te vi”, isto é, ainda se baseia somente na cooperação econômica, no livre comércio. A avaliação dessas relações permite o entendimento atual tanto do Brasil quanto dos demais países, o entendimento dos efeitos da crise econômica mundial em toda a América Latina e as alianças que não conseguem se fortalecer.

Aprofundar o entendimento de América Latina, essa grande desconhecida. Povos não se conhecem, não se entendem e não tem a mínima noção de como transformar uma coisa tão diversa, em única. Há que se analisar, ainda, uma possível integração entre os países da América Latina, partindo da posição política em que o Brasil se encontra neste momento com relação aos outros países que formam esse bloco, além de mensurar disparidades culturais e econômicas que podem dificultar a união latina.

O Brasil como país latino-americano

As tratativas políticas em termos de América Latina estão acontecendo com maior freqüência. O Brasil ganhou força política nos últimos anos na mesma proporção em que acusou a formação de multinacionais brasileiras, que ganham espaço em países da América Latina. A sociedade precisa de informações diferenciadas sobre o mercado em franca expansão, e o que encontramos nesse momento é uma carência de informações que componham o verdadeiro cenário em que países latinos se encontram.

Os caminhos políticos trilhados pelo Brasil com relação à América Latina explicam ações e discursos, bem como momentos políticos vividos pelo país. Da época do Império aos dias de Lula, muitos foram os caminhos percorridos em direção à cooperação com os demais países do continente e muitos foram os descaminhos trilhados, pois o Brasil não foi o mais amado e é o único que não fala espanhol.

Luis Cláudio Villafañe G. Santos, faz de seu estudo “A América do Sul no discurso diplomático brasileiro”, um demonstrativo dos caminhos e descaminhos diplomáticos percorridos pelo Brasil na busca da hegemonia, que trabalhou sempre de forma pontual caracterizando-se como país pacífico, que respeita o direito internacional, subdesenvolvido e que só recentemente incluiu no seu discurso diplomático a questão de ser sul-americano.

Além disso, o país não é alvo de simpatia por parte dos demais países, sentimento granjeado quando buscávamos a integração, ao modo norte-americano de ser até recentemente e atualmente com um novo discurso e ações mais focadas. Mas a crítica está aí e vêm nas falas de estudiosos e militantes nos diversos temas que compõem a discussão atual.

Busca de um lugar na ONU

Luiz A. P. Souto Maior, no texto “O Brasil e o regionalismo continental frente a uma ordem mundial em transição”, afirma que o Brasil assumiu uma postura mediadora e conciliadora com países desenvolvidos, emergentes e na penúria, almejando assim seu espaço no Conselho de Segurança da ONU. Apoiado na figura carismática do presidente Lula, o Brasil torna-se um novo país, reconhecido em todo o mundo mas que, segundo Souto Maior, precisaria superar resistências regionais e dirimir conflitos ideológicos.

Tarefa hercúlea teria o governo brasileiro em resolver a questão das desavenças políticas e regionais bem como teríamos em traduzir esse ponto através de fontes confiáveis. Buscou-se, então, novo apoio em trabalho de Marcelo Coutinho “Movimentos de mudança Política na América do Sul Contemporânea”, que afirma que precisamos nos apoiar em várias categorias para conseguirmos visualizar as contradições vividas pela América Latina no quesito história política.

Caminhos que levam ao mesmo lugar

Mas chegamos ao ponto chave: a América Latina trilhou caminhos coincidentes. E em “Governabilidade e Representação política na América do Sul”, Fátima Anastásia, Carlos Ranulfo e Fabiano Santos, alinhavam essas semelhanças desde seu descobrimento ao desafio de construção institucional, com o voto delineando a nova configuração política dessas tantas Américas reunidas.

Alinhavar a América Latina de forma a deixar entender seus problemas estruturais, da economia à política, e as formas possíveis de construção de um bloco econômico forte, capaz de fazer frente aos novos tempos pós-crise mundial, é o desafio proposto. E a forma de chegar a qualquer conclusão vai depender da capacidade de se ouvir especialistas e na boa vontade em se construir massa crítica para ajudar ou desmontar essa nova rede de negócios e cooperação.

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