terça-feira, 22 de junho de 2010

América Latina busca um líder, por Lucas Ito

O Brasil surge como possível líder da América Latina e vários fatores o auxiliam a buscar esta posição. Além de ter alcançado a estabilidade econômica nos últimos anos, pesquisas apontam o país como a 5ª maior economia do mundo nas próximas décadas. Também foi a nação menos afetada pela crise mundial de 2008.

Atualmente, há reservas nos cofres brasileiros, fato relevante para uma economia que engatinhava há cerca de 20 anos e que o coloca a frente de seus vizinhos. Mas, segundo Valério Arcary, historiador e palestrante do Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos, há que se ter cuidado, pois essa poupança tem proporções reduzidas, “não é um colchão de penas de ganso, é um colchão fininho, como dizem no Japão é um tatame”.

Outro fator é a escala do território brasileiro. Para alguns especialistas, a liderança pode ocorrer naturalmente pela extensão geográfica, visto que tamanho engloba diversos aspectos, como mão-de-obra barata, e principalmente, mercado consumidor, “tamanho faz diferença, porque o tamanho significa escala, escala para o mercado, mercado de consumo sobretudo de bens duráveis”, afirma Arcary.

O poder bélico é mais um ponto que pode alocar uma nação frente a outras, porém, se impor como líder militar na América Latina, parece não estar dentre as possibilidades e intenções brasileiras. Os recentes investimentos em aviões-caça, por exemplo, são, minimamente, para defesa e organização das inúmeras fronteiras (apenas Chile e Equador não fazem fronteira com o Brasil). Já a polêmica missão de paz no Haiti, liderada pelo Brasil, é uma ferramenta para conseguir ser membro fixo do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). Como afirma o economista José Amaral, o discurso brasileiro não é belicista, “a postura do Brasil é diferenciada e é isso que chama a atenção no mundo. Ninguém vê o país como uma potência militar, o Brasil é o país do diálogo, onde as pessoas vão te receber super bem e é essa, a meu ver, a visão que o Brasil passa para o Conselho de Segurança da ONU”.

Entretanto, a hegemonia brasileira no cenário latino-americano pode vir, principalmente, do seu alinhamento histórico com a política norte-americana. E esse é tópico em que a Bolívia e a Venezuela, por exemplo, divergem com relação a possível liderança brasileira. Enquanto Hugo Chávez e Evo Morales se colocam como principais opositores do imperialismo norte-americano, o Brasil mantém uma relação privilegiada com os Estados Unidos, que demonizam os referidos presidentes. A questão que se formula é: relações diplomáticas e econômicas são importantes, mas a política brasileira não está reproduzindo o discurso dos EUA na América Latina? Formar um bloco econômico para representar os interesses dos países latinos no panorama mundial não será possível se seu líder renunciar a visão hegemônica.

Entre divergências e acordos o Brasil parece, inevitavelmente, caminhar para liderar as nações latino-americanas. O fundamental é respeitar a soberania e os interesses dos povos da América Latina. Se seus vizinhos discordam de alguns pontos, em contrapartida, os EUA também não engoliram o acordo brasileiro com a Turquia e o Irã sobre a troca de urânio pouco enriquecido.

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